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Metade dos leitos de UTI no Bom Jesus serve de ‘estacionamento’ de pacientes da neurologia

Os deputados que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os Leitos do SUS estiveram em Toledo nesta quinta-feira (7) visitando o Hospital Bom Jesus, que realiza 70% dos seus atendimentos pelo SUS. O hospital possui 113 leitos credenciados ao SUS do total de 200 leitos e 270 funcionários trabalhando no atendimento. Mas o número que mais chama a atenção é do número de leitos de UTI geral credenciados ao SUS que estão sendo ocupados por pacientes que aguardam remoção para hospitais da região que atendem alta complexidade em neurologia, ou seja necessitam de procedimentos cirúrgicos.

07/07/2011 - 18:53


Dos 12 leitos de UTI/SUS que o hospital Bom Jesus possui, seis deles estão sendo usados para atender pacientes que aguardam remoção. Além destes 12, o hospital ainda conta com mais 2 leitos de UTI contratados. Ou seja, quase 50% dos leitos serve de “estacionamento” (termo usado pela superintendente do hospital, Michele Okano) enquanto aguardam uma vaga em alta complexidade fora de Toledo. A superintendente informou ainda que possui 6 leitos de neo natal credenciados e mais 2 leitos neo natal contratados.

Os deputados foram recebidos por Michele Okano, que relatou o número de leitos credenciados ao SUS e de que forma estes pacientes chegam ao hospital. Em Toledo a triagem é feita pelo mini hospital que encaminha os casos de maior complexidade ao Hospital. Após o relato, novamente a questão do descredenciamento em alta complexidade em neurologia foi posto em debate. Michele relato que há seis meses Toledo perdeu o credenciamento em alta complexidade de neurorologia, devido a uma portaria do Ministério da Saúde que estabelece que cada regional deve ter uma população de 380 mil habitantes a ser atendidos. Em vista desta exigência, Toledo perdeu o credenciamento e agora tem como referência Cascavel. O vereador Ademar Dorfschimidt, que acompanhou a visita declarou a portaria do Ministério impede o atendimento a população e destacou que é a portaria que impede o credenciamento em alta complexidade de neurologia para Toledo. “Sem o credenciamento as pessoas ficam sem o atendimento”, lamentou o vereador.
Sobre o fato do descredenciamento, Michele Okano disse que o hospital virou “um estacionamento de pacientes a espera de atendimento em alta complexidade”. Hoje existem cinco pacientes internados no hospital, sendo que quatro já estavam alocados na UTI e o quinto paciente estava na enfermaria até a visita da Comissão. A situação foi relatada por familiares a Comissão que solicitou a Direção o encaminhamento do paciente Benedito Caetano dos Santos para a UTI, até que ele possa ser encaminhado a um leito de alta complexidade em neurologia. Por telefone, os deputados fizeram contato com a Central de Leitos na tentativa de encaminhamento do paciente pela Central de Leitos de Cascavel( que atende Toledo, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Francisco Beltrão e Cascavel). Mas os deputados receberam a negativa de que não há disponibilidade de leitos em alta complexidade em Cascavel. Na Central de Leitos o funcionário que atendeu a ligação dos deputados não soube informar quantos leitos são credenciados por especialidades. O presidente da CPI, deputado Leonaldo Paranhos solicitou um levantamento de informações sobre os leitos credenciados. Pouco mais de vinte minutos depois da solicitação de remoção de seu Benedito da enfermaria para a UTI, as enfermeiras informaram que ele já havia sido transferido. O deputado comentou a situação: “Nos parece que há uma falha na comunicação entre enfermaria e direção do hospital para a realocação do paciente que aguardava na enfermaria, sendo que havia vaga de leitos na UTI”. A superintendente do hospital rebateu dizendo que o médico responsável pelo paciente já havia encaminhado o pedido de transferência para a UTI.
No momento em que o deputado Paranhos concedia entrevista a imprensa nos corredores do hospital, o senhor José Ivan Correia Almeida interrompeu o silêncio da formalidade da visita e denunciou que o quarto onde sua esposa se recupera de uma meningite viral está impregnado a dias pelo forte odor de urina. Os jornalistas que até então ouviam as declarações de Paranhos, voltaram os microfones, gravadores, máquinas fotográficas e filmadoras para uma pessoa que quebrou o protocolo e colocou em evidência o que alguns olhos e narizes ignoravam. Ao contrário das acomodações recém-reformadas e as primeiras a serem visitadas pela Comissão, o relato de seu José não expressou a primeira impressão que os deputados tiveram ao adentrar enfermarias que abrigavam mamães e seus bebês.
O relato de José foi para que os deputados e imprensa que ali estavam registrando a visita dos deputados não ficasse cega diante do que ele estava vivenciando dentro do hospital ao acompanhar a esposa em recuperação. José declarou a quem queria ouvir e publicar: “Não tenho vergonha de falar a verdade. A imundice daquele banheiro, uma latrina. Minha esposa se recupera de meningite viral naquele ambiente sujo. Estou mostrando o que acontece, e só quem entra aqui sabe o que acontece. Minha esposa está a mais de uma hora com dor de cabeça, esperando um medicamento. Me disseram que foram buscar na farmácia, será que esse medicamento vem de São Paulo”, questionou José sobre a demora para sua esposa ser atendida. No momento em que seu José falava a imprensa, ele foi abordado por uma enfermeira do hospital que solicitou que ele retornasse ao quarto, pois ele estava acompanhando uma paciente que estava no isolamento.
Em nota sobre o ocorrido, a assessoria do Hospital se limitou a dizer que José Ivan Correia Almeida é acompanhante da paciente Ivete Schroeder, suspeita de ter contraído meningite viral. A nota diz ainda que Ivete permaneceu internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) até o dia 6 de julho e diante do quadro de melhora foi transferida ao setor de enfermaria. A nota diz ainda: “Bastante alterado, segundo relato do corpo clínico, Almeida e a família faltou com respeito quanto ao quadro de isolamento e procurou infringir as normas de conduta”. A nota oficial do hospital não se pronunciou em nenhum momento sobre a denúncia feita por José, se limitou a frisar que ele transgrediu as normas de segurança quando foi ao corredor. Momento esse em que relatou a imprensa o que ele e a esposa estavam vivenciando no hospital.
O contraste entre as primeiras instalações e os corredores onde a esposa de José está internada foi verificado in loco pela reportagem que ao adentrar alguns quartos também sentiu o forte cheiro de urina, como o denunciado pelo seu José.
Apesar das situações presenciadas pelos deputados no hospital em Toledo, o presidente da Comissão ainda avaliou como melhor a situação encontrada em Toledo em relação a Cascavel, onde segundo ele haviam pacientes alocados nos corredores dos hospitais.  “Em Cascavel os hospitais foram preparados para receber a CPI, as pessoas foram retiradas dos corredores”, disse Paranhos. O deputado disse ainda que no geral o Paraná não precisa de mais leitos, pois são mais de 21 mil leitos no estado. “O que precisa é organização, é gestão pública. O que está caracterizado é que existe uma despreocupação com o dinheiro público. Falta de atendimento e de humanização. Em Cascavel um diretor clínico me disse que não adianta puxar os pacientes para dentro porque chegam outros, tem ficar nos corredores.  Isso tem que mudar”, disse Paranhos que declarou ainda “é mentira que falta leito, mentira que falta funcionário, é mentira que falta dinheiro, ele está sendo mal aplicado”. Ele informou que o Paraná é o estado que mais recebe dinheiro do SUS, e se dividir o dinheiro vindo do Estado, da União e dos municípios pelo número de atendentes chega-se a quantia de 1280 reais por paciente. “É mais caro que um plano de saúde”.
Com a intenção de solucionar o problema do gerenciamento dos leitos, o deputado acredita que com a instalação de uma central de leitos on line o problema será equacionado. “Um paciente quando entrar na central de leitos já entra na fila e o próximo leito é dele, sem interferência do prefeito, vereador, deputado. Tem que ter o direito de ser atendido sem a interferência de ninguém”, defendeu Paranhos.
O presidente da CPI informou que para fiscalizar esse sistema será proposto o pacto regional e a criação de uma figura do fiscal da saúde. Mas ele defendeu que a população também fiscalize e denuncie as irregularidades. Ainda segundo o deputado, o diagnóstico da CPI é problema de gestão, fato este que será enfatizado no relatório que deve ser concluído até o dia 26 de julho, data de encerramento dos trabalhos da CPI.  Segundo Paranhos o relatório será entregue ao Ministério Publico, Tribunal de Contas da União e Tribunal de Contas do Estado, assim como ao governo do Paraná. Paranhos frisou que na próxima semana deve acontecer uma reunião com ministro da saúde Alexandre Padilha. O encontro que está sendo articulado pelo deputado Elton Welter tem a intenção de revelar ao ministro a situação encontrada no Paraná e conversar sobre a articulação do Pacto Regional. Na repactuação o governo federal estabelece metas para os municípios “A região atingindo a meta terá benefício, não tendo perderá o credenciamento”.
O deputado Elton Welter disse que o ministro da saúde vai receber os membros da CPI dos Leitos do SUS nos próximos dias. Segundo Welter vários problemas foram identificados como a disparidade entre sobra e falta de leitos nos hospitais. Ele disse que acredita que a CPI vai ajudar na regulação dos leitos. “Com o diagnóstico feito pela CPI o estado do Paraná poderá ser o primeiro a repactuar com o governo federal conforme a nova norma,” salientou Welter.
 
Confira ainda reportagem em vídeo.
 
Por Rosselane Giordani
 
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