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O jovem deve aprender que cabe a ele colocar em suas mãos o seu próprio destino, diz a educadora Zenaide

Zenaide Gatti, 46 anos, é graduada em filosofia, licenciada em história, mestre em história e doutora em educação. Ela é professora da rede pública estadual dos ensinos Fundamental e Média. Também atua como professora temporária na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e mais de 11 anos atuou no ensino superior. Neste ano, Zenaide foi alguém que teve um papel fundamental na educação: estimulando a pesquisa e a reflexão de diversos estudantes. Hoje, Zenaide é o destaque da Casa de Notícias.

24/12/2011 - 14:22



Zenaide acredita que educador e professor possuem conceitos diferenciados e que durante este ano, estes conceitos foram se construindo melhor na sua vida. Atuando há 21 anos, ela percebe que nem sempre foi tão tranquilo ou muito claro o que é a profissão e como se sentia em relação a ela. Zenaide entendeu a sua profissão quando encontrou a maturidade por meio de novos estudos. “Hoje entendo que não é demagogia dizer que ao mesmo tempo em que o professor ensina, ele aprende, mas ao mesmo tempo em que contribui para formar ou moldar, ele é influenciado. Eu – sem medo de errar – digo que é muito mais a influência do aluno com o professor, ou seja, o aluno influencia mais devido a diversidade. O que resultado do que somos é fruto destas pessoas que fizeram parte de nossa vida”.
Zenaide contou que no começo de sua profissão uma amiga descreveu como as duas se sentiram durante muito tempo enquanto profissionais. A professora contou que sua amiga dizia que elas queriam tirar dos alunos conhecimento ou a produção quase como se fosse um parto a fórceps. “Durante muito tempo tive esta personalidade muito dura com os alunos e comigo no sentido de uma cobrança muito mais incisiva e queria o resultado a qualquer custo. Isso leva a um stress profundo”.
Ela revela que pesquisas mostram que 80% dos professores do Paraná sofrem de algum tipo de síndrome, principalmente a de Burnout (Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, definido por Herbert J. Freudenberger como "(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional). “No começo quando fui para a sala de aula lidei com muita pobreza, miséria e todo o tipo de dificuldade. Isso me atingia. Eu - como a maioria absoluta – sendo uma profissional idealista, mas sem a prática queria mudar o mundo. No entanto, com o tempo você percebe que é impossível mudar o mundo e, principalmente, as pessoas. Eu percebi que se apenas ajudasse uma pessoa teria feito a minha parte”.
Zenaide contou com ajuda profissional para melhor compreender o processo que vivia. “A terapia me fez entender que tipo de pessoa eu era, pois ao encontrar-se como profissional é conseqüência do encontrar-se como pessoa. Há 12 anos ficou claro o que é realmente a profissão professor e como me encontrei com esta profissão. Ser ético é fazer aquilo da melhor forma possível”.
Papel do educador
Para a professora Zenaide, o papel do educador é provocar, abrir possibilidades de pensar um assunto sobre outras formas. “É mostrar que o mundo de repente não é só aquilo que o aluno viu até agora e de que existe outras possibilidades. É provocar para fazer reflexões, para buscar novas saídas, sejam elas pessoais, profissionais ou éticas. Além do compromisso com a humanidade. Neste papel é fundamental conhecer o seu meio, porque o restante vem em acréscimo, como a didática, a relação com os alunos, o desafiá-los, o desestabilizá-los. O professor precisa desestabilizar o aluno no sentido de  tirar da zona de conforto”.
Alegrias e frustrações
Ao longo de sua história de educadora, Zenaide lembra que guarda com carinho a amizade que tem com seus muitos alunos que hoje atuam nas mais diversas áreas do conhecimento. “Mesmo aqueles que não gostavam muito da forma que eu lidava com o conhecimento. Muitos achavam que era demais, mas hoje conversam comigo e entendem a importância. Encontro-me com alunos que tinham dificuldades ou problemas pessoais, mas encontraram um caminho ao saírem da zona de conforto”.
Já as frustrações, Zenaide afirmou que a maioria delas está relacionado ao entendimento da mensagem, ao não acharem um caminho ou somente passarem pela escola. “Infelizmente, a maioria dos jovens estudantes somente passa pela escola. Conheci jovens que perderam a vida e tinham tudo para dar certo. Por escolhas que fizeram jogaram suas vidas fora, seja na violência ou dependência química. A vida é feita de escolhas e ele teve a possibilidade de escolher e escolheu algo que não o fez bem”.
Zenaide acrescentou que a cultura educacional estava arraigada de que o professor era o responsável pelo não conhecimento. “Muitas ‘coisas’ poderiam ser diferentes, mas a história se repete no sentido de não perceber a crítica diária do que está em seu entorno. No próximo ano acontece mais um pleito e a juventude deve ler a vida pregressa daqueles que vão escolher e avaliar se esta pessoa tem algum comprometimento com a vida pública”.
A professora salientou que ainda resta uma esperança. “Espero que muitos jovens busquem um novo caminho e pensem em alguém comprometido. Por outro lado sou racionalista e não acredito em milagres. Acredito em trabalho na formação, na educação, em buscar. O Brasil mudou ao estudarmos como era feito política no período dos coronéis, mas ainda tem que mudar muito. A história é vida, trabalho e depende de cada um, pois é bobagem eu colocar a minha vida na mão do outro. Falo sempre para os meus alunos tomem os seus destinos em suas mãos. Não coloquem o destino de vocês na mão de ninguém, nem dos pais, nem do professor, porque não existe o salvador da pátria. Confiem em vocês e tenham um projeto de vida. Acredito em trabalho no sentido de processo, de construir, produção intelectual, espiritual, psíquica, e, principalmente, política. A minha grande esperança de que as pessoas coloquem a expectativa em si no sentido de trabalho e não vou colocar o meu destino e esperança nas mãos do outro. O jovem deve aprender que cabe a ele colocar em suas mãos o seu próprio destino”.

Reportagem Selma Becker
Texto Graciela Souza

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