“Não há hospital livre disso. Lógico que um hospital de grande porte e de alta complexidade ou um hospital universitário com vários leitos de UTI [unidade de terapia intensiva] e que interna pacientes com cirurgias complicadas são o tipo de lugar que pode ter mais bactérias resistentes. Mas nenhum hospital ou casa de repouso com longa permanência está livre disso”, observou Cyrillo.
Para o infectologista, o uso indiscriminado de antibióticos configura, de certa forma, um problema cultural, já que o profissional de saúde se sente mais seguro ao receitar o medicamento. “Ele acha que está fazendo um bem para o paciente, mas vários fatores precisam ser levados em conta na hora de fazer um programa de prevenção e também de orientação para o uso de antibiótico”, reforçou.
Na tentativa de conter os casos de superbactéria no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que a venda de antibióticos só pode ser feita com a apresentação de duas vias da receita médica. O objetivo, de acordo com a gerente de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde, Magda Machado, é restringir a automedicação, já que uma via fica retida pelo estabelecimento.
Ela lembrou que, após os casos da superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) registrados no país nos últimos anos, a Anvisa editou uma nota técnica que trata da identificação, prevenção e controle de infecções relacionadas a micro-organismos multirresistentes. Entre as obrigatoriedades nas unidades de saúde está a higienização das mãos por meio do uso de álcool em gel por profissionais de saúde e visitantes.
Francisca Silva, 52 anos, é representante de laboratório e tem medo de contrair qualquer tipo de infecção resistente a medicamentos. “Tomo certos cuidados com a higiene porque trabalho em hospital e, por isso, estamos suscetíveis a todo tipo de contaminação. Procuro me proteger de qualquer uma delas”, contou.
A dona de casa Andreia Queiroz da Silva, 34 anos, tem lúpus, doença que compromete o sistema imunológico, e também se preocupa em manter hábitos como lavar as mãos com água e sabão quando frequenta unidades de saúde. “Acho que está faltando informação sobre essa superbactéria. Nos hospitais, é comum vermos panfletos com orientações sobre a higienização das mãos, mas muita gente não segue.”
Cleide Teixeira, 39 anos, é enfermeira e trabalha há 19 anos na mesma unidade de saúde. Além da higienização das mãos, ela usa luvas cirúrgicas descartáveis como alternativa para se proteger e proteger os pacientes de microorganismos multirresistentes. “Nós, profissionais de saúde, estamos expostos a qualquer tipo de doenças. Temos a obrigação de evitar que os pacientes sejam contaminados”, avaliou.