Já parou para refletir sobre o que a cidade representa na vida de cada indivíduo? Ela é a estrutura física de uma sociedade e por isso precisa ser pensada para atender as demandas de todos os seus moradores. Nesse contexto o urbanismo vem a frente da arquitetura, por isso, seja por meio de planos diretores ou das demandas privadas, o desafio dos urbanistas, mais do que nunca, é transformar as cidades em espaços democráticos.
Assim como em grande parte do mundo, no Brasil, mais de 80% das pessoas vivem nas cidades. É nesse cenário urbano que se concentram a maioria das mobilizações, manifestações e acontecimentos da humanidade. Pensando nisso, a partir da Constituição de 1988 e mais intensamente a partir de 2001, com o Estatuto da Cidade, os planos diretores no país passaram a ter uma maior relevância. Para o arquiteto, Ricardo Sardo, a cidade passou a ser o foco principal do planejamento. “O solo urbano passa a ter que cumprir uma função social, ou seja, o direito à propriedade não pode mais sobrepor o interesse público”.
Nesse novo cenário, os arquitetos e urbanistas passaram a ter novas preocupações, entre elas destacam-se três temas: especulação imobiliária, segregação sócio espacial e mobilidade urbana. “Hoje percebe-se que, na maioria dos casos, em dois terços da cidade a infraestrutura é escassa, deficiente ou até mesmo inexistente, a exemplo das favelas. Por outro lado, Toledo, no oeste do Paraná, pode ser considerada uma cidade bem estruturada para os padrões brasileiros”, explica Ricardo Sardo.
Mas segundo ele, a mobilidade urbana continua sendo um dos maiores desafios. “Com a especulação imobiliária e o desenvolvimento, as cidades começaram a se espalhar horizontalmente, marginalizando as populações mais carentes que não tem condições de pagar por imóveis em áreas valorizadas. O problema é que sem um planejamento que garanta infraestrutura e transporte público para essas populações nos bairros, elas ficam condenadas a permanecer ali, o que impacta na qualidade de vida de todos”, explica o arquiteto.
Perfil profissional
A nova configuração das cidades apresenta demandas que vão na contramão da globalização e valorizam novamente a identidade de cada lugar e a sua cultura. Além disso, exige dos profissionais um novo perfil.
Para Ricardo Sardo, atualmente os arquitetos e urbanistas precisam ter duas linhas de atuação. “É preciso pensar nos espaços em suas demandas públicas, e quando estiver trabalhando em um projeto privado, tem que se preocupar em fazer uma obra contextualizada com o que está ao redor”.
Um exemplo utilizado pelo arquiteto é a construção de uma igreja católica ao lado do Teatro Municipal de Toledo. “Busquei um projeto em que as duas obras conversassem, ou seja, busquei uma unidade urbana. Para isso fiz uma releitura da forma do prédio pré-existente (Teatro), dotando a igreja com algumas referências arquitetônicas já consagradas naquela localidade”.
IAB Cascavel
A região oeste do Paraná em breve deve contar com um reforço na valorização e debate sobre o papel da Arquitetura e do Urbanismo na sociedade. Uma subseção regional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) será inaugurada em Cascavel. O órgão que existe há mais de 100 anos deve se somar ao recém criado Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), auxiliando os profissionais no desenvolvimento de ações que promovam melhorias nas cidades, por meio da profissão.