O título do livro é um neologismo que exprime a aversão e o preconceito que muitos setores da sociedade nutrem em relação às regiões periféricas das grandes cidades. A obra não apenas denuncia essa discriminação, mas também apresenta personagens complexas, cujas trajetórias são marcadas por desafios sociais, violências, resistências e sonhos.
Publicado originalmente em 2018 e relançado posteriormente com um conto inédito, Perifobia recebeu elogios por sua sensibilidade e fluidez, trazendo histórias reconhecíveis e narradas com linguagem fresca e ritmo envolvente. Lilia Guerra nasceu em São Paulo em 1976 e trabalha como auxiliar de enfermagem. Sua escrita destaca personagens que habitam zonas negligenciadas das grandes cidades, abordando suas lutas e formas de resistência. O livro também recebeu uma recomendação do autor José Falero, que destacou sua relevância na literatura periférica contemporânea.
Além dos contos reunidos em Perifobia, Lilia Guerra é autora dos romances Rua do Larguinho e Amor Avenida, originalmente publicados em 2014 e relançados em 2022. Também publicou três volumes do livro Novelas que escrevi para o rádio e Livro de Crônicas para colorir a cidade, de 2022. Suas obras abordam questões sociais e dão voz às(aos) marginalizadas(os), trazendo personagens potentes e histórias envolventes.
A narrativa da autora se insere no contexto de uma literatura periférica que tem conquistado espaço nas últimas décadas. Autoras(es) como Conceição Evaristo e Jeferson Tenório também têm contribuído para dar visibilidade às vozes marginalizadas, trazendo ao centro do debate temas como pobreza, racismo, exclusão social e violência policial. A obra de Lilia Guerra se destaca pelo tom realista e ao mesmo tempo poético, com uma linguagem que captura as particularidades do cotidiano periférico.
A realidade brasileira, conforme retratada nos contos de Perifobia, evidencia um país marcado por desigualdades estruturais. O desemprego, a falta de acesso a serviços públicos e a violência policial são elementos constantes nas histórias, refletindo problemas recorrentes enfrentados por milhões de brasileiras(os). A obra também dá destaque às redes de solidariedade que emergem nesses espaços, mostrando que, apesar das adversidades, há resistência, resiliência e criatividade.
Além disso, Perifobia aborda a interseccionalidade entre raça, classe e gênero, evidenciando como esses marcadores sociais agravam as desigualdades enfrentadas pelas(os) moradoras(es) da periferia. As mulheres negras, por exemplo, aparecem na obra como personagens que sofrem não apenas com a pobreza, mas também com a violência de gênero e o racismo estrutural. A opressão policial e a precarização do trabalho também são temas recorrentes, reforçando como a exclusão social afeta de maneira desproporcional determinados grupos. Em síntese, o livro se alinha a um debate mais amplo sobre as múltiplas camadas de discriminação que estruturam a sociedade brasileira.
Ao dar voz à periferia, Lilia Guerra desafia os estereótipos e provoca reflexões sobre a forma como a sociedade enxerga esses territórios e suas/seus moradoras(es). Perifobia é, portanto, um livro essencial para compreender a complexidade da realidade brasileira e a urgência de um olhar mais atento e empático para as questões sociais que ele aborda.
O livro foi lido e debatido pelo clube de leitura Leia Mulheres Toledo em março de 2023 e vem sendo indicado por artistas e escritoras(es) que enfatizam a importância do seu relançamento.