Faltam apenas nove dias para que as atividades de conscientização da Semana Nacional de Doação de Órgãos, que inicia no dia 21 de setembro, comecem. Em meio às preparações para a Semana, a equipe da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdoot) do Hospital Bom Jesus (HBJ), entra em ação: surge um doador de órgãos. Um morador de Toledo, identificado apenas pelas iniciais C.E.S, com 41 anos, poderá salvar nove vidas com seus dois rins, quatro válvulas do coração, o fígado e as duas córneas.
O doador apresentou desde a infância, um quadro de esquizofrenia, passando por várias internações no HBJ. A última foi no dia 2 de setembro, por conta de convulsões, onde permaneceu internado. Ontem, dia 11, foi diagnosticada a morte encefálica. A partir desse momento, varias etapas de todo um processo precisam ser cumpridas, para que pessoas possam ser ajudadas. Segundo o enfermeiro e coordenador do Cihdoot, Itamar Weiwanko, o primeiro passo é conversar com os familiares sobre a possível doação, pois somente eles podem autorizar o procedimento. “É um momento muito delicado, mas como não há tempo, a abordagem tem que ser feita nesta mesma hora, é nosso papel enquanto profissional da área”, explicou. Neste caso específico, quem autorizou a doação foi a irmã de C.E.S.. “Essa situação foi atípica, pois a irmã não estava na cidade. Com o apoio da Guarda Municipal, conseguimos localizá-la, fomos até ela e conhecedora da importância deste ato, autorizou a doação junto de outros familiares”, complementou.
Mais etapas
Após, exames sanguíneos foram realizados para diagnosticar a existência de outras patologias. Estando tudo bem, os dados do paciente foram inseridos em um sistema, para que de acordo com o biótipo: peso, altura, tipo sanguíneo, fosse formada a fila de espera com estas características compatíveis. Esta fila é coordenada pela Comissão de Procura de Órgãos e Tecidos para Transplante (Copot) de Cascavel e nas situações positivas de captação, são acionadas equipes de Curitiba, Cascavel ou Porto Alegre, que estão aptas para este trabalho. “Hoje, a equipe veio da Santa Casa de Porto Alegre. O médico responsável é cirurgião geral, do aparelho digestivo e de transplantes”, explicou Weiwanko. Já o destino dos órgãos não é divulgado. Desde 2009, com a criação de uma nova portaria, este processo é sigiloso. “Quem está na fila no Estado Paraná tem prioridade. Caso não sejam encontrados receptores compatíveis, as possibilidades são abertas para todo o país”, disse.
Corrida contra o tempo
Existem três tipos de doação de órgãos: em vida, com o coração parado e com diagnóstico de morte encefálica. Em vida, quem tem dois rins, por exemplo, pode doar um. Com o coração parado, restam apenas 12 horas para que as válvulas cardíacas, as córneas e os ossos sejam captados. Já com o diagnóstico de morte encefálica, todos os órgãos saudáveis e aptos para transplante, podem ser doados. No entanto, cada órgão tem um tempo determinado até ser transplantado. “Os órgãos captados hoje, possuem tempos diferentes. As córneas podem permanecer em uma solução específica e ficarem preservadas por até 15 dias, os rins duram até 24 horas, já o fígado possui um tempo menor para ser transplantado, de apenas oito. O coração para transplante possui quatro horas e quando separado em válvulas cardíacas, tem um tempo maior”, detalhou.
Para o coordenador do Cihdoot, é importante salientar que o Estado do Paraná possui um dos protocolos mais rígidos de diagnóstico de morte encefálica a nível nacional. “É difícil para algumas pessoas entenderem, que após constatada a morte encefálica, a pessoa internada não vai mais reagir. O coração não necessita do comando do cérebro para funcionar, pulsa involuntariamente. Porém, é apenas uma questão e tempo para que pare de bater”, explicou. “Outro dado importante é que o transplante é exclusivamente feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). E dentro do SUS, é o procedimento que funciona muito bem no Brasil. Falando da minha experiência pessoal, até hoje, em anos de atuação, nunca tive nenhuma decepção com o setor”, complementou.
Conversa em família
Mesmo que a pessoa deseje em vida, doar seus órgãos após a morte, caso a família não autorize, nada pode ser feito. Portanto, é imprescindível que seja realizada uma conversa “em casa”, com os filhos, pais ou responsáveis, sobre a possibilidade de doar ou não os órgãos. “Principalmente nos casos de mortes violentas ou inesperadas, o choque da família é imenso. Pode ser difícil para eles, decidirem sobre algo tão importante naquele momento. Assim, se essa fala já existir, o processo todo pode ser facilitado e vidas salvas”, salientou.
Números em Toledo
Weiwanko salientou que 2015 tem sido um ano muito bom para Toledo, mais especificamente para o Hospital Bom Jesus, no que diz respeito à doação de órgãos. Até o momento já foram contabilizados 27 doadores. “Um número muito expressivo se comparado com os outros anos. Pensando que normalmente mais de um órgão é doado por pessoa, como hoje, por exemplo, muitas vidas já foram salvas”, disse.
Semana Nacional de Doação de Órgãos
Diversas atividades serão realizadas em todo país, que objetivam a conscientização das pessoas sobre o ato de doar, na Semana Nacional de Doação de Órgãos que inicia no dia 21 e segue até o dia 27. Em Toledo, no dia 23, será realizado um culto ecumênico, às 18h, em frente ao Hospital Bom Jesus (rua Almirante Barroso, 2193 – Centro). “Familiares dos doadores são convidados para este momento. Porém, toda a comunidade pode participar”, finalizou Weiwanko. Durante a Semana, uma campanha interna do HBJ irá tratar do assunto com os internados e com quem passar pelo local. Panfletos também serão distribuídos e quem tiver dúvidas, pode comparecer ao HBJ para obterem mais informações.