Os tratamentos com fertilização e ciclos compartilhados com doação de óvulos foi publicada no Diário Oficial da União em 2013. Com isso, o desejo de se tornar mãe está um passo mais próximo de se tornar realidade. As novas regras que regulamentam a prática da reprodução assistida no Brasil preenchem uma lacuna importante, atendendo as novas solicitações do cotidiano da população, que procura por meio das Técnicas de Reprodução Assistida (TRA) ter filhos.
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.013/13 trata dos procedimentos de reprodução assistida no país e normatizou os ciclos compartilhados, que proporcionam a oportunidade de prosseguirem tratamentos para engravidar com as TRA, a dois grandes grupos de pacientes: mulheres que não tem mais óvulos e casais que não podem realizar tratamentos por conta de questões financeiras.
Sistema Único de Saúde (SUS)
Quem espera pela ajuda do governo nos tratamentos de infertilidade no Brasil, se encontra em situação de “abandono”. “Infelizmente não há programas efetivos de média abrangência, que permitem que casais de pequena renda possam realizar tratamentos de infertilidade que dependem das TRA. Mesmo havendo uma redução dos custos dos tratamentos de fertilização nos últimos anos, o fator financeiro, ainda continua sendo no Brasil, o principal fator de abandono dos tratamentos”, relata a médica especialista em reprodução humana, Tânia Balcewicz. Após a normatização dos ciclos compartilhados estes casais passaram a apresentar chances reais de terem filhos.
Prioridades
Segundo a médica, o momento de decidir ter filhos está sendo postergado na vida de muitos casais, que priorizam a carreira profissional, por exemplo. Com isso, a cada ano mais mulheres se surpreendem quando, na investigação da dificuldade de engravidar, se deparam com a ausência de óvulos em seus ovários. “Aos 35 anos, 8% das mulheres já não possuem mais óvulos de qualidade que lhes permitirão ter filhos e menos de 10% conseguirá tê-los após os 40 anos. Neste momento, a difícil decisão: ficar sem filhos, adotar ou ainda, partir para as técnicas de reprodução assistida. Se a opção for a última, os obstáculos no Brasil eram quase intransponíveis, mas lentamente a divulgação dos ciclos compartilhados tem oportunizado pequenas mudanças”, explica a especialista.
Como funciona o tratamento por ciclos compartilhados?
As novas regras permitem que uma mulher que não tenha mais óvulos, possa ajudar financeiramente outra mulher com menos de 35 anos, com dificuldades de engravidar e necessidade de fertilização, mas limitada pelo fator financeiro. Em troca, a primeira recebe a doação de óvulos para sua fertilização. Dra. Tânia explica que o ciclo compartilhado acontece quando uma mulher jovem, com menos de 35 anos e muitos óvulos decide doar parte destes óvulos em troca de seu tratamento. Estes óvulos doados são fertilizados com espermatozoides do marido da receptora e o embrião resultante é transferido para o útero da receptora, que não tinha mais óvulos próprios. Em contrapartida esta receptora colabora com o tratamento da doadora, que não tinha condição financeira para fazer seu tratamento. “A fertilização da doadora é realizada pelas mesmas técnicas de reprodução assistida, mas com os espermatozoides do seu companheiro e transferidos para o seu útero”, detalha a especialista.
Quem pode realizar o procedimento?
Doadoras de até 35 anos e receptoras de até 50 anos podem realizar o procedimento. Para a realização de ciclos compartilhados, a paciente deve procurar uma clínica especializada, onde são realizados exames confirmando o bom estado de saúde e grande quantidade de óvulos da possível doadora. A clínica fica responsável pela confirmação das compatibilizações de tipagem sanguínea e características entre doadoras e receptoras, sempre em caráter sigiloso, ou seja, as doadoras não devem conhecer a identidade das receptores e vice-versa. Este procedimento deve ser livre de caráter comercial, em que a doadora não receberá dinheiro, apenas o benefício do custeio do seu tratamento e ambos os casais envolvidos devem assinar o consentimento informado, legalizando todo o processo, conforme determinação do Conselho Federal de Medicina. A receptora só poderá receber dois embriões por tentativa e ainda assim terá maior taxa de sucesso, pois as taxas de gravidez de uma paciente acima de 40 anos é de aproximadamente 10%, se tiver óvulos próprios, enquanto que nas pacientes muito jovens se pode obter taxas de gravidez acima de 40%. “Essa limitação no número de embriões transferidos reduz as chances de gestação múltipla, que seria mais um fator de risco para mulheres mais velhas”, explica Dra. Tânia. “A prática de ciclos compartilhados já existia nos centros de reprodução assistida, mas não estava regulamentada e com a resolução do CFM, dá oportunidade a estes dois grupos de pacientes que não teriam chances de ter filhos viabilizarem seus tratamentos”, finaliza a médica.
Da redação.