De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a saúde não é apenas a ausência de doenças, mas também um completo bem estar físico, social, psicológico e ambiental. Dentro deste conceito está inserido o nutricionista. Todas as suas ações devem visar a melhoria da qualidade de vida através de uma alimentação adequada e saudável que esteja ligada diretamente com a segurança alimentar e nutricional.
Esta ação de segurança trabalha em dois aspectos: o direito humano à alimentação adequada e a soberania alimentar. Isso significa que o nutricionista passou a se importar além das necessidades nutricionais, mas também com o processo desde a produção do alimento até o que acontece com o indivíduo depois do consumi-lo.
“Antes quando prescrevíamos que o paciente ingerisse mais fruta, não se levava em consideração a região em que ele estava. Quais são as frutas nativas e a sazonalidade da fruta. Atualmente tudo isso é levado em consideração, como em que condições a fruta é produzida e quem a produz”, diz a nutricionista e mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável, Jaciara Reis.
Ela conta que o desafio do nutricionista é conhecer e acompanhar todo este processo de produção do alimento até o consumidor final. “A alimentação passou a ser um ato político, pois as escolhas dos consumidores têm resultados dentro da sociedade. Ou seja, se eu consumo alimentos industrializados, eu estou escolhendo entre ter mais ou menos saúde; em promover o pequeno agricultor com a agricultura familiar ou agronegócio; em desenvolver a economia local ou pensar no alimento como um produto de exportação”, explica.
O novo Guia Alimentar da População Brasileira explora exatamente a questão do alimento in natura, a comida de verdade e principalmente destacando a mudança da nomenclatura de produtos industrializados, que não são mais chamados de alimentos, mas sim produtos alimentícios. “Com a nova visão sistêmica e mais ampla da nutrição entra as questões de agroecologia e o consumo de alimentos orgânicos. Conseguimos entender todos os efeitos que os alimentos têm sobre a saúde do homem e também na saúde do Planeta”, salienta Jaciara.
A nutricionista fomenta que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, que na legislação brasileira passou a ser chamado de produtos fitossanitários para ficar alinhado com os países que integram o Mercosul. “Estamos em uma região monocultora exportadora, que tem sua economia fortemente ligada ao agronegócio. As pessoas não despertaram para as questões que conectam o uso de agrotóxicos a diversas doenças, como o câncer, e até com doenças autoimunes, como o autismo e a hiperatividade, além de alergias alimentares”.
A exemplo, disso a pesquisa da Fiocruz recentemente apontou duas cidades do Oeste do Paraná, entre as mais expostas a agrotóxicos do Estado. Cascavel é a mais exposta e Toledo é a terceira, ficando atrás de Ponta Grossa.
Estudos do Painel Técnico Intergovernamental do Solo (ITPS) revelam que as condições climáticas e de solo são favoráveis a produção de alimentos. “Entretanto, o modelo do agronegócio predominante no estado, que privilegia a monocultura exportadora, tende a empobrecer o solo o que pode nos levar a uma escassez na produção de alimentos”, destaca Jaciara.
É neste contexto que está o outro viés da segurança alimentar e nutricional no que se diz respeito à soberania alimentar, ou seja, a liberdade que o produtor tem sobre o que plantar e de que forma plantar. “O olhar do agronegócio visa apenas o capital. Então se dizem que é para plantar soja, planta-se soja, não comida de verdade. Na soberania alimentar o produtor escolhe que semente usar, onde comprar, de que forma vai plantar, o que ele vai produzir e o quanto vai produzir”, conclui a nutricionista.
Matéria por: Daniel Felício