Os representantes das entidades 350 Brasil e a Coalizão não Fracking Brasil COESUS falaram para diversos representantes da sociedade civil organizada, executivo e legislativo municipal sobre os riscos à saúde e a economia provocados pelo Fracking, tecnologia de exploração do gás xisto nas camadas profundas do subsolo. O risco do uso desta tecnologia é iminente, pois a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP promete novo leilão de lotes para exploração de xisto no Brasil. O leilão o qual Toledo está inserido está suspenso, por medida judicial. Lideranças e sociedade civil prometem grande mobilização para o dia 4 de outubro, véspera do leilão.
A representante da 350 Brasil, Dra. Nicole Figueiredo de Oliveira, que é articuladora internacional da luta contra o Fracking destacou que o uso da tecnologia não é viável, pois produz mais prejuízos a sociedade do que benefícios. “A experiência não foi positiva. Tanto é que os únicos países que hoje produzem fracking de forma viável e produtiva foram os Estados Unidos, Canadá e China. Na Argentina, que produz à quase cinco anos, ainda não é economicamente viável. O Fracking traz muito mais impactos do que benefícios econômicos para a população e pros países onde ele acontece.
Outra preocupação apresentada pela Dra. Nicole é o impacto do uso da tecnologia no meio ambiente. “Países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e França tiveram milhares de agricultores envolvidos nessa luta contra o fraturamento hidráulico, dizendo não. A Inglaterra e os Estados Unidos tiveram sua agricultura impactada. Hoje, os agricultores usam a água do fracking para irrigar os alimentos, que não podem mais serem exportados e ficam contaminados. A produção econômica agrícola é impactada diretamente e negativamente”.
A preocupação foi compartilhada pelo secretário de meio ambiente, Leoclides Bisognin. “Estamos preocupados com o que pode acontecer se o Fracking for usado em Toledo. Nós que temos a melhor água, uma reserva de água, uma imensa suinocultura, avicultura, uma agricultura forte, tudo isso voltado para exportação, e se nós tivermos qualquer problema com a qualidade da água, com certeza os milhões de dólares da suinocultura, avicultura e piscicultura, que é um pólo que está sendo implantado em Toledo e que depende da qualidade da água serão prejudicados. Não podemos, em hipótese alguma, colocar isso em dúvida”.
Organizações internacionais têm denunciado o Fracking como uma tecnologia que provoca sérios riscos a saúde pública. “Universidades conceituadas americanas, canadenses e européias já se manifestaram mostrando estudos científicos comprovando a contaminação com flowback, que é esse resíduo que vem do Fracking. A contaminação provoca danos á saúde, como problemas no sistema nervoso central, câncer, problemas respiratórios, má formação de fetos, infertilidade, principalmente em mulheres. A ONU já comprovou por estudos, a própria agência de proteção ambiental americana já lançou um estudo comprovando essa contaminação. A Áustria é um bom exemplo de um país que tomou consciência dos riscos que o Fracking oferecia, voltou pra casa, fez a lição de casa e proibiu o fraturamento hidráulico no seu território”.
O coordenador geral da Coesus, Dr. Juliano Bueno de Araújo alertou para o risco iminente no uso do Fracking no país. “Estamos em um momento crítico. Temos combatido no Congresso Nacional, recentemente na comissão de meio ambiente, apresentando todas as fragilidades e riscos que o fraturamento hidráulico traz para o Brasil, em especial para o estado do Paraná, onde temos 122 cidades que serão atingidas, entre elas a cidade de Toledo. Por ora tivemos algumas vitórias, estamos fazendo dois anos da campanha nacional de informar a comunidade sobre os riscos do Fracking e de que devemos estar unidos em uma campanha nacional, local ou regional e dizermos não. Isso que é importante”, alertou.
Araújo mostrou-se preocupado com a intransigência da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP. “A Agência tem sido, como sempre, intransigente. Em nenhum momento a ANP se apresenta interessada em discutir com a população que vai ser impactada. Das mais de 378 cidades impactadas, a ANP não esteve presente em nenhuma nesses dois anos. Agora em outubro, novamente o 13º leilão vai varrer diversas cidades brasileiras desse mal, que assola não somente o nosso país, mas também diversos países do mundo”.
Outro caminho que a sociedade organizada tem buscado é o caminho jurídico para evitar a implantação do fraturamento hidráulico no Brasil. “Entraremos com todas as medidas judiciais cabíveis para, mais uma vez, judicializar como aconteceu com o 12º leilão. A questão é : 1º grau, 2º grau, sempre há o risco de termos essas demandas judiciais derrubadas e de uma hora pra outra esse fantasma, esse horror estar aí nas nossas casas”, destacou.
Para a Dra. Nicole Figueiredo de Oliveira, o estado, e também o município, serão profundamente prejudicado. “Existe esse risco e ele é iminente. O Paraná é um estado que tem muitas reservas de gás xisto. Esses blocos foram vendidos em áreas como Toledo. Quase todo o território brasileiro está coberto de blocos que foram leiloados na 12ª rodada, o risco é iminente. Não podemos deixar que uma cidade que tem tanta significância para a produção agrícola seja impactada”.
Nicole disse que as mobilizações contra o Fracking acontecem em todo o mundo. “A Coalisão Não Fracking Brasil faz parte de uma coalizão internacional contra o fraturamento hidráulico. A gente têm trocado várias experiências com ativistas de outros países, como por exemplo, da Inglaterra, que este mês colocou milhares de tratores e agricultores nas ruas protestando contra o fraturamento hidráulico. Então a gente ta fazendo um chamado para no dia 4 de outubro, véspera do leilão da 13ª rodada, todos fazerem seu protesto e dizerem não ao fraturamento hidráulico. Não queremos o Fracking no Brasil”.
O prefeito Beto Lunitti disse que o poder executivo é contra a implantação desta tecnologia no município. “Já tomamos posição sobre os primeiros leilões que aconteceram. O município de Toledo se se posicionou contra esta tecnologia de exploração de combustíveis fósseis que na história do uso desta tecnologia, foi nociva ao espaço territorial por onde passou. Nós, como temos uma região altamente produtiva, que produz alimentos para o mundo, e produz alimento com qualidade somos contra correr este risco”.
Beto Lunitti lembrou que o executivo juntamente com a Câmara de Vereadores se antecipou criando uma Lei Municipal, na tentativa de impedir que esta tecnologia seja usada em solo toledano. “Aprovamos uma Lei proibindo o município de fornecer alvará para que empresas que usam o Fracking como tecnologia de exploração de energia. Não queremos que isso contamine nosso solo, água e ar, pois isso impedirá nosso desenvolvimento agrícola e econômico e a saúde pública, como demonstraram os estudos feitos até o momento”.
O gerente da Coamo em Toledo, Marino Mugnol participou da palestra proferida pelos representantes da COESUS e da 350 Brasil e demonstrou a preocupação do setor. “Estamos muito preocupados, acompanhando e apoiando os movimentos, porque, de fato, fica uma grande dúvida do que vai acontecer, se de fato, nas regiões em que estamos estabelecidos, venha a ocorrer esse tipo de exploração. São informações que nos afetam muito, a economia, o agronegócio, as culturas e a atividade agropecuária”.
Também participou do encontro o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Toledo – ACIT, Danilo Gass. “Nós entendemos que é uma coisa nociva para a sociedade como um todo. Temos uma região extremamente produtiva e estamos em cima do Aqüífero Guarani. Se depender da sociedade organizada, da nossa entidade, nós somos mais de três mil sócios, representamos quase 90% de todo o PIB de Toledo no setor de indústria, comércio e serviços. Vamos nos mobilizar no que for preciso. Sabemos que a briga é desigual, porque ela vem de cima pra baixo, é leiloado, eles ganham, têm o direito de fazer, mas nós temos muita força. O que nós precisamos fazer é se mobilizar”.
Em Toledo, dia 4 de outubro, será organizado uma grande mobilização envolvendo todos os setores da sociedade civil, para tentar barrar o uso do Fracking no Brasil.