Lixo. Ou resíduo. Independente do nome que é atribuído a ele, esse é um problema que já tirou o sono de muitos ambientalistas, gestores públicos, pesquisadores, sanitaristas e tantos outros profissionais. É um problema global que interfere na saúde do planeta e da população mundial. Mas quando tudo parece que não tem solução, sempre tem alguém que apresente uma ideia inovadora com a promessa de resolver de uma vez por todas esse ‘carma’ do mundo moderno.
Durante visita à Itália, o prefeito Beto Lunitti e o presidente da Câmara Municipal vereador Ademar Dorfschmidt, onde tiveram a oportunidade de conhecer uma Usina e Termo Plasma da empresa Ing Gallarati, que apresenta uma gestão inteligente e eficiente dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). A empresa italiana desenvolve projetos com a finalidade de gerar uma solução definitiva para o descarte seguro e viável dos RSU e está disposta a investir cerca de €45 milhões de euros em Toledo para instalação de Usina de Termo Plasma (UTP). A tecnologia é inovadora e é a atual promessa para acabar definitivamente com o problema do lixo.
Para apresentar a empresa e esclarecer dúvidas a respeito da inovação, o engenheiro industrial da Gallarati, o italiano Marco Bassetto, fez uma apresentação da UTP na manhã dessa quarta-feira (25) na Câmara de Vereadores de Toledo. Participaram diversas autoridades políticas, ambientais, Ministério Público, empresários do ramo e comunidade em geral.
UTP
“A Usina de Termo Plasma é uma tecnologia já consolidada na Europa e Estados Unidos e permite dar uma destinação final e definitiva para qualquer tipo de resíduo. Não é só o lixo domiciliar, mas também lixo industrial, agrotóxico, pneus, lodo de esgoto, lixo farmacêutico, enfim, todo o tipo de resíduo você consegue eliminar”, garantiu Marco Bassetto.
“Queremos acabar com o problema do lixo, dos lixões. Essa tecnologia permite reaproveitar os antigos lixões e ainda gerar energia elétrica com os antigos resíduos. É feito um tratamento térmico, esse calor gerado na faixa de 1500 graus faz mover uma turbina a vapor que gera energia elétrica. Tudo se transforma de um produto em outros subprodutos. Esses subprodutos são energia elétrica, cinzas, material inerte que serve para fazer asfalto. Não vai ter outros resíduos no final da operação. Ou seja, tudo é reaproveitado”, explicou o engenheiro.
A proposta da empresa é audaciosa e, se for de fato real, trará o sono de muita gente. “É uma outra concepção de vida. Vai mudar a vida da população da cidade. Não vai ter mais aterros. Não terá mais locais para ser despejado o lixo, o lixo literalmente vai sumir. Através da mineração dos aterros nós vamos separar a terra que cobre o lixões. O lixo é totalmente reaproveitado para gerar nova energia”.
A primeira usina que deve entrar em funcionamento no Brasil será no Estado de Goiás. “Ainda dependemos um pouco da burocracia brasileira”. Marco disse ainda que estudou o tipo de lixo brasileiro durante cinco anos e que é diferente do que chega nos aterros da Europa. “É por isso que escolhemos a tecnologia do plasma, pois é a única que consegue tratar com eficiência o lixo brasileiro. Após a primeira usina estar no chão o povo brasileiro ficará mais confiante e deixará as portas abertas para as demais instalações”, comentou Marco, admitindo que a tecnologia ainda é vista com muito receio.
Como prova de que não existe o que esconder, Marco disse ter levado mais de 200 pessoas brasileiras entre políticos, procuradores, empresários e demais interessados para conhecer as instalações das usinas da Itália. “Essa é uma forma de mostrar que a tecnologia existe, funciona, é viável e que na Europa funciona todos os dias há mais de sete anos”, frisa.
Baixo investimento público
O presidente da Arabille, empresa que representa a italiana no Brasil, Feisal Imad, disse que o município de Toledo só tem a ganhar, pois a contrapartida é pequena. A Prefeitura faria a doação do terreno para a instalação da usina e garantiria a entrega dos resíduos gerados por meio da coleta de lixo. O investimento é todo da iniciativa privada.
“O valor que a prefeitura gasta com o aterro sanitário não seria diferente. Mas hoje ela tem despesa, mas não tem receita. Depois ela terá a despesa, porém terá a vantagem da arrecadação dos impostos (ISS e ICMS), da possível ação social que a empresa irá proporcionar, da reciclagem dos catadores e até mesmo da referência turística, pois essa inovação atrai inúmeros visitantes”, salientou Feisal Imad.
Além disso, o presidente da Arabille mencionou que a maioria dos municípios da região não tem porte para a instalação da indústria, porém poderiam destinar seus resíduos para Toledo ao invés de enviarem para grandes centros mais distantes. “Em um raio de 100 quilômetros é possível atender com viabilidade todos os municípios da região. Com isso Toledo teria um ganho maior na arrecadação dos impostos, que ficam retidos na cidade sede da usina”, destacou.
Cautela
O prefeito Beto Lunitti disse que esse é um negócio que está sendo apresentado e que oferece soluções aos problemas já conhecidos referentes aos mais diversos tipos de resíduos. “É necessário ter cautela para que possamos encaminhar essas questões com responsabilidade. Estamos abrindo a discussão com os vereadores, com os empresários e com a comunidade em geral para verificar se há o interesse de discutir com profundidade esse assunto. Preliminarmente estamos discutindo na secretaria de Planejamento essas parcerias público/privado. As tecnologias estão disponíveis no mercado e cabe decidir se faremos uso ou não”.
O promotor de Meio Ambiente de Toledo, Giovani Ferri, avaliou de forma positiva a discussão. “As impressões foram altamente positivas, o que nós vimos é tecnologia de ponta, mas temos que ter cautela em qualquer tipo de empreendimento, é algo para perdurar 25 a 30 anos, então essa reunião foi saudável para que a população possa conhecer o projeto da usina e discutir suas tecnologias, sua viabilidade e analisar o seu custo/benefício”.
A partir da reunião desta quarta-feira (25), foi sugerido pela coordenação local do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) o encaminhamento da discução da tecnologia da usina de plasma a direção estadual do Instituto. Com isso, ao invés de se obter uma licença prévia local, se ampliará o debate, com possibilidades de uma referência estadual para a instalação da usina.