Você já pensou sobre qual o destino que é dado ao lixo que você e sua família geram? Qual é o volume do que descartamos todos os dias? Tudo o que descartamos era essencial para nossa existência? Você já pensou o quanto o nosso consumo compromete os recursos naturais? Foi esta reflexão que levou a Casa de Notícias a uma jornada: conhecer o destino dado pelo município de Toledo às toneladas de inservíveis dispensados nos Ecopontos Itinerante.
O Ecopontos Itinerante é uma política municipal de arrecadação de materiais inservíveis. No início o objetivo era reduzir os focos do mosquito Aedes aegypti provocador da Dengue, Chikungunya, e Zika Virus, mais tarde, a ação é reestruturada, para qualificar a destinação do material reciclado.
Em 2016, até sexta-feira (24), os cidadãos de Toledo entregaram nos Ecopontos Intinerante 1834 toneladas de inservíveis. Destes 70% foram reciclados. Para compreender os caminhos percorridos do lixo nosso de cada dia, a Casa de Notícias convidou o secretário de Meio Ambiente Edemar Rockenbach, para percorrer conosco o caminho feito pelo material, após ser recolhido nos Ecopontos.
Partimos em direção ao Aterro Sanitário, local onde acontece a distribuição para o destino de cada tipo de inservível. Lá, a primeira pergunta que esta repórter se faz é: Produzimos tudo isso, sem nos perguntar se é necessário? A resposta é dada pela dona Sebastiana Correia dos Santos de Carvalho, presidente da Associação dos Catadores, uma senhora com olhar sereno e quem tem muita história para contar. “Já vi muita coisa boa aqui. Roupas e calçados bons jogados no lixo. Tem gente que recolhe, lava e usa para passear”.
A reflexão da dona Sebastiana nos coloca uma interrogação ainda maior, o que nos faz jogar no lixo, algo que ainda pode ser usado por alguém? Qual nossa relação de consumo e meio ambiente?
O que dispensamos vale dinheiro para muitas pessoas. A Associação dos Catadores reúne 28 pessoas e é do lixo que elas tiram o sustento de suas famílias. Em média, cada uma consegue ganhar cerca de um salário mínimo, mas nem sempre foi esta realidade, pois a forma como descartamos nosso lixo compromete a reciclagem.
Dona Sebastiana conta que o Ecoponto melhorou a quantidade e a qualidade do material destinado a reciclagem. “Aumentou o produto e a qualidade. E a nossa renda também”. Ela arrisca a dizer que as pessoas estão mais conscientes, mas tem muito a melhorar.
Opinião compartilhada por Rosangela, outra associada. “No passado era horrível, as pessoas misturavam até coisa que não dá nem para dizer, mas hoje está bem melhor. Ainda tem gente que mistura. Não deviam! Não é justo com quem está aqui separando, porque isso dá dinheiro para gente, mas cuida da natureza também”.
O secretário de Meio Ambiente, Edemar Rockenbach conta que os objetivos do Ecoponto foram ampliados, por isso a logística foi readequada. Antes o material recolhido era separado no Aterro Sanitário, esta realidade mudou. “Hoje separamos na hora que recebemos. Isto facilita e qualifica o material para reciclagem que chega ao Aterro já com o local definido para que a empresa que tem o licenciamento para a destinação correta faça a retirada. Com isso, aproveitamos 70% do material”.
O mapa do lixo
O lixo nosso de cada dia, em Toledo, tem quatro formas de ser escoado. O lixo doméstico é responsabilidade da Secretaria de Habitação e Urbanismo e é realizado pela empresa Transportec. A segunda forma são os recicláveis que acontece nos contêineres amarelos, no Programa Porta a Porta – que é uma parceria com a Associação dos Catadores e é realizado uma vez por semana em cada ponto prédeterminado, ou nos pontos fixos na JJ Muraro, Maripá, próximo a Sanga Pinheirinho, no Coopagro e na Vila Pioneiro. A terceira acontece nas comunidades do interior, quando a prefeitura busca uma vez por semana ou a cada quinze dias, conforme a demanda. E a quarta, é o Ecoponto Itinerante.
Ecoponto
Rockenbach faz a contabilidade das ações e conta que só neste ano já foram recolhidos, com esta política, 1830 toneladas de inservíveis. “Realizamos 24 ações do Ecoponto, destes cinco foram no interior. As comunidades onde recolhemos maior volume em primeiro lugar está o Jardim Porto Alegre e em segundo o Jardim Coopagro”.
E nesta contabilidade conhecemos os caminhos percorridos pelo lixo que geramos. “70% de tudo que recolhemos foi reciclado. 25% desta parte são metais, sucatas, eletrodomésticos como geladeiras, fogão, microondas, máquinas de lavar... e 15% são vidros, 10% pneus, 10% eletrônicos e outros 10% plástico, papel e papelão”.
De tudo o que descartamos 30% são rejeitos e são enterrados no Aterro Sanitário. “É aquilo que não tem como aproveitar. São móveis irrecuperáveis, material de limpeza de quintal, grama – material de poda”.
Destino do lixo
Os consumidores se livram do lixo e a prefeitura recebe. Na sequência quem cuida do que é nosso? São empresas detentoras de licenciamento e a própria Associação de Catadores que fica com 50% do que é recolhido e reciclável.
A empresa Eletrônica Chaves tem licenciamento para receber e destinar os eletrônicos; a Borracharia Arrepiado dá destinação aos pneus e, mais recentemente, a empresa Tolevidro começou receber as lâmpadas de descarte doméstico.
Logística
A estrutura utilizada pela prefeitura para recolher estas 1830 toneladas de inservíveis envolve duas máquinas pá carregadeiras, quatro a cinco caminhões caçamba e de sete a oito camionetes. As pessoas envolvidas nas ações do Ecoponto são do executivo municipal (1º , 2º e 3º escalão, além de alguns servidores que recebem Função Gratificada. “Foi necessário garantir estas pessoas nas ações para não onerar o município, pois o pagamento de Horas Extras, inviabilizariam a política”, contou o secretário.
Sociedade e o lixo
Mas a pergunta que não quer calar: E a sociedade como se relaciona com o seu lixo? Para Rockenbach esta relação melhorou, mas há um caminho a ser percorrido. “A sociedade assimilou a política e hoje sabe onde descartar o inservível. Percebemos o quanto reduziu o descarte ilegal nos terrenos baldios, estradas, leitos dos rios e sangas”.
Mas a educação ambiental, ainda é um desafio a ser vencido. O secretário conta que ação realizada é em parceria com a Secretaria de Educação e o público alvo é a comunidade escolar.
Ao público que vai até o Ecoponto, ainda não foi proposto uma reflexão sobre o consumo e o descarte. “É uma boa sugestão para pensarmos. Hoje há um aumento do poder aquisitivo e com isso criamos uma cultura do descarte. Não arrumamos mais nada, simplesmente substituímos. É mais fácil trocar do que dar manutenção. Encontrar estes profissionais é cada vez mais difícil. Vivemos a lógica da indústria que produz com vida útil reduzida. Já foi descartado no Ecoponto TV de Led, com pequenos defeitos, microondas funcionando”, lembrou o secretário de Meio Ambiente.
Rockenbach opina que a sociedade está mais responsável, mas pode avançar. “O meio ambiente agradece”.
Os contêineres amarelos são um exemplo do quanto à sociedade pode melhorar. O descarte de lixo orgânico neste local é inadequado, mas ainda é uma realidade.
Ao descartar caixas, as dobre, pois sobrará mais espaço para o descarte de outra pessoa. Erguer a tampa e colocar o lixo reciclável dentro do contêiner ajuda manter em bom estado o descarte e ainda contribui para não contaminá-lo. Esta atitude reflete na saúde daquele que separa e depende do nosso lixo para sobreviver.
Chegamos ao fim desta jornada sem a resposta: Como está a nossa relação com o que consumismo e a utilização dos recursos naturais. Esta resposta vamos buscar em uma próxima jornada.