Esperar um homem no barbeiro para uma mulher, equivale à espera masculina, enquanto o sexo oposto vai as compras em um shopping center. É torturante. Dá tempo pra reparar tudo... O barulho excessivo da rua movimentada. O ventilador no chão, que solitário, provoca menos vento que as janelas abertas, da sala comercial antiga. E até a combinação da pintura monocromática - de um tom de verde hospital - com o azulejo, igualmente antigo. Alguns espelhos pendurados pelas paredes ajudam os olhos a rastrearem melhor o ambiente, sem denunciar a curiosidade.
Até que, uma fala meio que inaudível do barbeiro chama a atenção. “A moda agora é cortar cabelo em bar, cada coisa”. Pronto, lá se foi o tédio... Penso comigo, ele está certo, já ouvi falar sobre isso.
A referência do barbeiro é sobre a mais nova tendência do mercado de beleza masculino, que aliás, tem sido a aposta do segmento, para driblar a crise econômica nacional. O setor especializado nos homens fatura bilhões no país e não para crescer. Só em 2015, registrou 7,1% de aumento e a previsão, segundo a empresa de pesquisa Euromonitor International, é que o mesmo percentual positivo seja registrado, por ano, até 2019.
Me recordo, que durante a semana, uma publicação patrocinada em uma rede social de fotos, o Instagram, falava sobre uma barbearia nesses moldes (barbearia e bar), recém inaugurada na cidade. Sugeri a novidade ao responsável por me trazer até aqui, mas como pode perceber, ele gosta mesmo é do tradicional.
No entanto, se o mercado não para de mudar, quem quer sobreviver precisa se adaptar e até mesmo o bom e velho barbeiro, sabe disso.
A conversa segue com a pergunta do cliente: “E o filho, não está mais cortando cabelo? Segundo soube, ele costumava comandar a cadeira ao lado, no momento vazia, enquanto outro cliente aguarda a vez.
A resposta é surpreendente: “Ah, jovem é difícil né, ainda mais pra cortar cabelo. Mas agora ele está fazendo um curso. Designer de barba. Tá na moda!”
Mesmo sem nunca ter investido em marketing ou se preocupado em estar presente nas redes sociais, quando o assunto é preferência da clientela, ele mostra que entende! “Antigamente nem pensar em tirar as costeletas, deixava larga. Agora a barba é grande e o cabelo é que é baixo. A moda muda né? Cabelo, por exemplo, o pessoal agora só quer degrade”, comenta.
O rapaz que espera a vez, da trela... Ai os comentários soltos se tornam um debate aprofundado sobre as transformações do mundo da moda, mas no que diz respeito a cabelo e barba, é claro. “Teve uma época que era só corte surfista”, recorda o cliente, que ostenta cabelos nos ombros.
E quando a conversa está ficando boa, o corte de quem aguardo é finalizado. Uma pincelada aqui e ali para tirar o cabelo sobre o rosto e os ombros. Uma última analisada e pronto. Mais um cliente satisfeito. Só com o corte... sem cerveja ou futebol como um atrativo.
O preço compensa o atraso em relação as últimas tendências do mercado. R$ 15,00, pagos em dinheiro mesmo, porque máquina de cartão também não tem, mas junto com o tchau, um até breve com a expectativa de que até os mais tradicionais barbeiros, logo, logo, vão contar com mão de obra especializada na última tendência de beleza masculina. Penso comigo: “É, mudar é inevitável!”, enquanto mudo meu conceito sobre barbearias serem lugares tediosos...
OBS: nãos sei vocês, mas eu fiquei curiosíssima para saber se o próximo cliente da fila passou, ou não, a máquina no cabelão.
Crédito: Camila Andrade.